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Crystal Fighters, um concerto tribal

Crystal Fighters, um concerto tribal

2016-12-01, Paradise Garage
Tiago Varzim
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Arranjos florais. Vestidos tradicionais com pormenores provocadores. Uma veste à monge e um chapéu, pulseiras e outros acessórios à lá chefe da tribo. Foi esta junção esquizofrénica de cores, luzes e elementos visuais que fizeram do concerto de Crystal Fighters parecer uma reunião de uma tribo à volta da fogueira. Essa fluidez passou para o público que tomou conta do intimista Paradise Garage, mesmo com o som a meter água.

Para quem os viu no SBSR’15, no MEO Arena, a banda foi recebida por uma plateia bem composta e apostou nas músicas mais conhecidas sem apostar em arranjos diferentes ou versões alternativas das suas canções. Mais de um ano depois, os Crystal Fighters têm um novo álbum, “Everything Is My Family”, e vieram a Portugal para dois concertos num espaço mais intimista pela dimensão da plateia, mas também pelo espectáculo a acontecer num palco mais pequeno.

O rescaldo desses dois ambientes não consagra nenhum dos dois em vencedor. Se num palco maior a grandiosidade favoreceu o espectáculo, no Paradise Garage os britânicos conseguiram estabelecer um cordão umbilical com os fãs. Dúvidas houvesse durante o concerto, os mais de cinco minutos em que o público não parou de pedir um encore dissiparam a ligação de Crystal Fighters com quem lá estava, “no presente”, como eles gostam de vincar.

É juntar as mãos, libertar a energia e fazer os love signs: assim se faz no ritual dos Crystal Fighters. Fizeram, como promete o single “All Night” do novo trabalho de originais, o público sentir que podiam festejar a noite toda: «She makes me feel like I could party all night / You can, you can, you can».

Contudo, por estranho que possa parecer, o som foi o calcanhar de aquiles que, sem prejudicar o ambiente, fez estragos na parte artística. Os instrumentos abafaram por completo as vozes que, na verdade, sempre foram um fator diferenciador numa  banda que tem uma linha mais direita em termos de instrumentais. A diferença da voz de Sebastian Pringle não foi notada, ainda menos do que as duas back vocals que bem acompanham a banda ao vivo.

Esse foi um obstáculo que percorreu todo o espectáculo, mas não apaga a energia irradiada por todos os membros da banda enquanto percorriam os novos temas, reformulavam os antigos hits ou apostavam em instrumentais para fazer a festa. Foram do primeiro “Star of Love” (foi exatamente pelo tema desse álbum, “Follow”, que arrancaram), passaram pelo recheado de singles “Cave Rave” e chegaram a “Everything Is My Family” para apresentar ao vivo o álbum onde continuam a produzir hinos tribais, mas insurgem-se também a explorar novos sons com coerência no ritmo imprimido.

Dos novos temas destacaram-se, ao vivo, “In Your Arms” ou “Ways I Can’t Tell” mostrando que há mais para além dos singles do novo disco. Mas o destaque maior foi para o guitarrista Graham Dickson (que já no encore deu uma roupagem diferente ao tema mais do que conhecido “Plage”), protagonista do momento mais tribal dos Crystal Fighters durante o concerto: uma espécie de cerimónia para celebrar o presente, o amor e até os mortos.

É juntar as mãos, libertar a energia e fazer os love signs: assim se faz no ritual dos Crystal Fighters. Fizeram, como promete o single “All Night” do novo trabalho de originais, o público sentir que podiam festejar a noite toda: «She makes me feel like I could party all night / You can, you can, you can».

Esta sexta-feira a banda repete a dose num Paradise Garage também lotado.

 

Uma menção honrosa, como se costuma dizer nos concursos a quem não vence, para a dupla que fez a primeira parte do concerto. Como belo e quentinho warm-up que foram vale a pena a menção. Honrosa, é claro, pois foi uma honra descobri-los. Chamam-se The Pimientos e Kid Simius e são dois espanhóis que só de olhar nos parecem apaixonados pela música eletrónica, mas principalmente o experimentalismo: usaram um rádio com antena para fazer ‘ruído’, um piano com sopro e uma exploração constante do que tinham montado em palco. A descobrir.

SETLIST

  • Follow
    Yellow Sun
    LA Calling
    In Your Arms
    Love Is All I Got
    All Night
    I Love London
    I Do This Everyday
    Ways I Can’t Tell
    Lay Low
    Good Girls
    Bridge of Bones
    Love Natural
    At Home
    You & I
  • Encore:
    Plage
    Xtatic Truth