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Morreu John Abercrombie

Morreu John Abercrombie

António Maurício

O guitarrista faleceu dia 22 de Agosto, em Nova Iorque.

John Abercrombie, o guitarrista genial que contribuiu de forma significante para o género de fusão jazz-rock, morreu esta terça-feira no hospital Hudson Valley, em Nova Iorque. Tinha 72 anos. De acordo com a ECM Records (editora que lançou “Timeless” (1974) ou “Up and Coming” (2017)) o músico sofria de uma doença já bastante prolongada.

«O John conseguia chegar a todo o lado – em termos de ritmo, melodia, harmonia – num abrir e fechar de olhos». Palavras do baterista Jack DeJohnette, que se manteve por mais de quatro décadas associado com Abercrombie«Ele tinha um som muito quente, e tocava sempre com sensibilidade, dinâmica. Ele podia criar uma atmosfera com a sua maqueta, e através do seu excelente uso de espaço.»

A música de Abercrombie é muito difícil de fixar num único ponto ou estilo, balançando entre um som acústico com clareza impecável ou sintética e entre um som furioso até um calmo e frágil. Abercrombie disse frequentemente que desenvolveu o seu estilo pioneiro de fusão por necessidade, por não existirem “modelos” para seguir: «Tive que descobrir as coisas por mim mesmo» – disse numa entrevista em 2012, para a Jazziz«Agarrei em todos os aparelhos que tinha no meu arsenal – no meu conhecimento de harmonia e de guitarra, nos pequenos e poucos fragmentos ou peças de equipamento que usava na altura – e tentei encaixar-me.».

John Laird Abercrombie nasceu em Port Chester, Nova Iorque, filho de John Abercrombie e Elizabeth Beattie. Cresceu em Greeenwich, onde começou a tocar guitarra durante os seu tempos de criança (10-12 anos), inspirado pelo rock ‘n’ roll e blues (Chuck Berry, Fats Domino, Bill Haley). O seu primeiro herói das guitarras foi Barney Kesse, mas nomes como Wes Montgomery, Jim Hall, Milles David ou Bill Evans também se encaixaram na lista de influencias.

O guitarrista português André Fernandes manifestou-se (na sua página no Facebook) sobre a morte de Abercrombie: «Um dos grandes. A única vez que estive com ele para uma aula em sua casa, foi uma das pessoas mais afáveis, generosas e hilariantes com que alguma vez me cruzei. Duas aulas pelo preço (cobrou-me o que me desse jeito pagar..) de uma. Uma de música e outra de humildade e simpatia. Há um ou dois anos cruzámo-nos num festival em Espanha e deu um concerto incrível que ainda hoje recordo em detalhe pela subtileza e beleza de tudo o que foi tocado. Agora está onde pertence. Nas estrelas».

O herói da fusão passou duas vezes pelo nosso país, ambas na década de 80.