Quantcast
Graveyard, Rock Sem Metrónomo!

Graveyard, Rock Sem Metrónomo!

Nero

A forma explosiva como o retro rock dos Graveyard surgiu, principalmente a seguir ao segundo álbum, “Hisingen Blues”, torna os suecos num dos grandes nomes do género actualmente.

O baterista Axel Sjöberg falou-nos do crescimento da banda e do seu estilo de tocar. Confessou-se adepto da liberdade dinâmica que celebrizou John Bonham, por exemplo, em detrimento do espartano metrónomo. Os Graveyard já visitaram o Norte do nosso país, no Milhões de Festa, mas Axel Sjöberg confessou-se ainda um conhecedor e admirador de Lisboa, revelando uma aventura ébria ao visitar a estátua de um “Jesus Gigante”.

Citando-te, preferes um estilo com mais balanço a um 4/4. Os Spiders são mais 4/4, enquanto nos Graveyard tens a liberdade para desenvolveres mais o teu estilo. Foi por isso que ficaste apenas em Graveyard?
O que quis dizer é que podes tocar 4/4 com pequenas variações ou detalhes. Às vezes, parece que as pessoas tocam como se fossem máquinas e torna-se desnecessário ter um verdadeiro baterista. Bem, depende da música… às vezes é preciso parecer uma máquina também, se isso corresponder ao mood da música. Pessoalmente, gosto quando se consegue ouvir a personalidade do baterista, com pequenas variações e detalhes que são próprios desse mesmo baterista. Com os Spiders era impossível manter duas bandas e uma vida normal ao mesmo tempo, porque quando “Hisingen Blues” saiu, pedia constantemente a nossa [Graveyard] atenção. Eles queriam que me comprometesse a tempo inteiro e a 100%, tal como os Spiders. Por isso, não houve hipótese para mim de continuar na banda. Mas estão a conseguir safar-se muito bem sem mim. Vão editar um novo álbum dentro de uma ou duas semanas.

Axel Sjöberg já fez parte dos Spiders e gravou os três álbuns de Graveyard, o homónimo de estreia, "Hisingen Blues" e "Lights Out".

Axel Sjöberg já fez parte dos Spiders e gravou os todos os álbuns de Graveyard.

De facto, “Hisingen Blues” subiu bastante a fasquia. Houve um grande espaço-tempo entre esse e o primeiro álbum. Deram tudo em “Hisingen Blues”?
Foi uma combinação de muita coisa. Para começar, tínhamos uma editora maior, com mais dinheiro na carteira, quando lançámos “Hisingen Blues”, por isso houve mais marketing. E entre os dois álbuns tocámos imenso ao vivo e crescemos enquanto banda. O primeiro álbum foi gravado três meses após nos termos juntado… (risos) Não tivemos muito tempo para trabalhar enquanto banda, mesmo já tendo trabalhado anteriormente uns com os outros. Musicalmente, muito aconteceu nesses anos. Algumas músicas de “Hisingen Blues” já tínhamos tocado muitas vezes ao vivo e sentíamo-nos confortáveis, o que também fez diferença na forma como foram interpretadas no álbum. O primeiro álbum é um pouco mais… Hirto, inflexível, do que o “Hisingen Blues” por razões óbvias. Por outro lado, antes não tínhamos uma editora e dinheiro para gravar o álbum todo de uma vez, estávamos em digressão de vez em quando e, por isso, o processo de gravação foi um pouco on/off, consoante as nossas agendas permitiam.

O primeiro álbum é um pouco mais… Hirto e inflexível do que o “Hisingen Blues” por razões óbvias.

No curto espaço de tempo entre “Hisingen Blues” e “Lights Out”, com digressão pelo meio, pouco sobrou para composição. Isso significa que muitos outtakes de “Hisigen Blues” acabaram no álbum seguinte?
Não somos muito rápidos a compor… Usámos uns quantos riffs, que tinham sobrado de “Hisingen Blues”, mas foi “stressante” conseguir completar o álbum. Antigamente, as bandas podiam editar um álbum num ano e passar o resto a fazer digressão… Neste caso já tínhamos algum trabalho em rascunho e tivemos de nos concentrar em conseguir fazer com que “Lights Out” ficasse terminado.

A gravar, usas overdubs ou procuras o take perfeito?
Take perfeito. Quer dizer, perfeito quanto baste… (Risos) Não sou um baterista perfeito… Mas nunca fazemos overdubs. Houve uma única vez, não me lembro em qual dos álbuns, em que tentei gravar metade de uma música e estraguei tudo com o play along previsto e acabaram por colocar dois takes juntos nessa música. Nunca toquei com um click, sou mesmo mau nisso e fica estranho quando o faço, portanto o tempo pode ter flutuações.

Normalmente os bateristas não confessam isso…
Talvez pudesse aprender como fazer… é daquelas coisas. Não me importo que o tempo flutue, por exemplo, quando acelera no refrão e depois desacelera um pouco… Isso acrescenta vida à música, torna-a mais orgânica. Permite que sejas absorvido por ela. Não me importo com mudanças suaves de tempo.

As Vistalite são modelos produzidos pela Ludwig cujo material é... plástico. Para ser mais correcto, politereftalato de etileno. John Bonham usou vários kits destes com os Led Zeppelin. Axel Sjöberg é um fã dos modelos e de Bonzo.

As Vistalite são modelos produzidos pela Ludwig cujo material é… sintético. Para ser mais correcto, politereftalato de etileno. John Bonham usou vários kits destes com os Led Zeppelin. Axel Sjöberg é um fã dos modelos e de Bonzo.

vistalite detalhe

Detalhe dos shells acrílicos.

Preferes o hardware bem fixo, para que as peças não se mexam, ou preferes que se mova um pouco e o equipamento tenha a sua própria vida?
Ambos. A bateria em si, gosto que fique fixa, mas não de forma a que não consiga movê-las, especialmente nos festivais, em que os palcos não são totalmente direitos e podem descair para um lado ou outro. Aí gosto de poder movê-las, mas não gosto que se movam sem qualquer intenção (risos). Em relação aos pratos, gosto de os ter frouxos para que balanceiem livremente, porque parece-me que soam melhor. É o estilo de tocar.

Costumas fazer experiências e mudar a configuração do kit?
Não costumo fazer muitas experiências. O último kit que comprei da Vistalite tem dois timbalões de rack, por isso, durante algum tempo, antes de irmos para digressão nos Estados Unidos nesta Primavera, tinha os dois montados e tocava com ambos. Mas voltei a tocar com um timbalão de rack apenas. Talvez volte para dois outra vez para ver o que acontece, se muda a minha forma de tocar, ou se experimentar uma bateria que não conheço. Caso contrário, não experimento muito na configuração.

O que conheces de Lisboa?
Estive em Lisboa há uns 10 anos, tinha um amigo que vivia aí, e gostei muito! É muito bonito com as telhas no topo das casas e os azulejos. Eu e o meu amigo fomos até aquela estátua do “Jesus Gigante”, bebemos demais e tentámos atravessar, a pé, aquela ponte onde passam carros. Estávamos a meio da ponte quando a polícia nos parou e nos fez voltar para onde tínhamos vindo, para apanhar um autocarro.

Sabes que as pessoas vão para aí para cometer suicídio, foi por isso que vos mandaram embora…
Não!? Estávamos apenas ébrios e felizes (risos).

Fotos: Anders Bergstedt