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Bob Dylan, Highway 61 Revisited

Bob Dylan, Highway 61 Revisited

Redacção

A história e as sessões de estúdio de um dos mais importantes e significativos álbuns da música popular.

Alguém uma vez disse… «Every great song tells a story. And beyond every great song, there is a story to be told». Era uma vez uma canção, uma extraordinária canção. Uma canção chamada “Like A Rolling Stone”, tão revolucionária e intemporal como o rock ‘n’ roll, tão marcante e especial como um disco. Um disco chamado “61 Highway Revisited” que, no seu título e no seu íntimo, é sinónimo de liberdade, emancipação e evolução no percurso de um artista.

O disco em que Bob Dylan juntou Mike Bloomfield na guitarra solo, Bobby Gregg na bateria, Joseph Macho Jr no baixo, Paul Griffin no piano e Al Kooper no órgão (“Like A Rolling Stone”), para gravar onze canções que viriam a mudar o rumo da música popular. Onze canções que mudariam o mundo.

Julho de 1965. Dias após a controversa actuação no Newport Folk Festival, onde foi duramente criticado por alguns membros da comunidade folk norte-americana pela sua performance totalmente “electrizante”. Bob Dylan regressa aos estúdios da Columbia Records, em Nova Iorque, para a segunda sessão de gravações de “61 Highway Revisited”. Da primeira sessão, uma única canção… “Like A Rolling Stone”. Para a continuação, uma única direcção… a estrada 61.

Bob Dylan acabara de reactivar uma extraordinária essência, munida de grande potencial e inteligência, que transformaria uma geração e toda a sua existência.

Conhecida como a principal rota do country/blues, atravessando os Estados Unidos desde o Minnesota (terra natal de Dylan), até às mais profundas entranhas Mississipianas. A estrada 61 revelou-se a maior fonte de inspiração de um novo processo criativo. Dylan, que até ao lançamento de “Bringing It All Back Home” apresentara um reportório, maioritariamente, interventivo e acústico, ligaria mais uma vez as ideias e as palavras a guitarras, mas desta feita, a outro tipo de guitarras. Guitarras eléctricas, virtuosas e energéticas, que viriam a expandir a sua melodia e lírica a uma dimensão e mística nunca antes vista.

Produzido por Tom Wilson (“Like A Rolling Stone”) e Bob Johnston, “61 Highway Revisited” soaria mais “roqueiro”, entusiasta e progressista que os seus antecessores. Claro e objectivo, seria a quebra, a inovação e o aperfeiçoamento de um passado, onde canções como “Tombstone Blues”, “From A Buick 6” ou “Like A Rolling Stone” teriam o ímpeto e a magnitude necessárias para redefinir por completo uma origem e estilo, cuja identidade e intuito nunca mais seriam iguais. Bob Dylan nunca mais seria igual. Nada mais seria igual.

“61 Highway Revisited”, em especial o seu hit single “Like A Rolling Stone”, cairia que nem uma bomba relógio no epicentro da cultura norte-americana. De um momento para o outro, um número incalculável de população jovem (incluindo músicos como Jimi Hendrix ou Bruce Springsteen) era atingida por uma nova perspectiva, transparente e vanguardista, que mudaria toda a sua realidade através de uma poderosa e infecciosa música, o rock ‘n’ roll.

Bob Dylan acabara de reactivar uma extraordinária essência, munida de grande potencial e inteligência, que transformaria uma geração e toda a sua existência. Como Bruce Springsteen descreveu, na introdução de Bob Dylan no Rock N’ Roll Hall Of Fame, em 1988… «Ouvir aquela pancada de tarola no início de “Like A Rolling Stone” é como se alguém tivesse arrombado as portas da nossa mente». As portas da inocência, da consciência e de um presente. Não de um momento, mas para todo o sempre.

Muito do disco e das sessões na Sala A, do estúdio, viveu de frustrações, sessões exaustivamente repetidas e da intenção de Dylan em escapar às expectativas que público e imprensa tinham de si.

Como convém nestas coisas de lendas e mitos, “Like A Rolling Stone”, tal como uma grossa parte dos temas do álbum, começou de improviso. Com os músicos a tocar de ouvido e a seguir Dylan no piano ou na guitarra. De facto, o icónico riff de Al Kooper, num Hammond B3, foi um tremendo acaso. Na altura, Kooper era um músico jovem e verde e surgiu numa das sessões como convidado do produtor Tom Wilson, acontecendo a oportunidade de, num intervalo, poder sentar-se nas teclas e destilar as notas que escutava na cabeça, sobre aquilo que tinha estado a ouvir os restantes músicos fazer.

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Al Kooper sentado num Hammond B3. Ligado a uma Leslie, o músico gravou “Like A Rolling Stone”.

Muito do disco, e das sessões na Sala A do estúdio, viveu de frustrações, sessões exaustivamente repetidas e da intenção de Dylan em escapar às expectativas que público e imprensa tinham de si. No entanto, Dylan ainda não tinha ele próprio uma noção exacta de como o faria, como se pode depreender das palavras de Mike Bloomfield: «A primeira coisa que ouvi foi “Like A Rolling Stone”. Imaginei que ele queria blues, bendings, pois era isso que eu fazia. Mas disse-me: ‘Hey man, não quero nada dessas cenas à B.B. King’. Desfaleci. O que raio quer ele? Estivemos de volta da canção. Toquei da forma que lhe agradava e ele disse que estava com groove».

Esta sede de risco e experimentalismo acabaria mesmo por ditar o final da presença de Dylan em Nova Iorque. As sessões foram gravadas em 4 pistas, enquanto em Nashville já se gravava em 8. Daí Dylan ter trabalhado nos anos seguintes, até 1970, exclusivamente na cidade que é o coração musical da América. O álbum seguinte, “Blonde On Blonde” seria diametralmente oposto na organização e disciplina de trabalho, mas é neste que se ouve todo o risco e loucura do génio de Dylan.

E para sempre, “61 Highway Revisited” será recordado como um dos discos mais importantes da extensa discografia de Bob Dylan. Passados cinquenta anos da sua edição continua a ser uma das suas maiores representações de inovação e criatividade, uma das suas melhores demonstrações de talento e originalidade. Fresco, puro e brilhante, renovou uma doutrina e um estilo, uma carreira e um futuro. Passou do certo ao desconhecido, do desconhecido ao mais popular e difundido, o rock ‘n’ roll. O rock ‘n’ roll que influenciou alguns dos melhores especialistas. O rock ‘n’ roll dos eternos puristas. Um autêntico registo de classe e genialidade. Um clássico para a história e a imortalidade.

ARTIGO COMPLETO NA ARTE SONORA #44