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Indie Music Fest: Como transformar uma tarde de verão num festival

Indie Music Fest: Como transformar uma tarde de verão num festival

António Maurício

Tiago Nalha, produtor do Indie Music Fest fala-nos sobre o nascimento e a realização do festival, os critérios do cartaz, a música portuguesa, as dificuldades e muito mais.

Estivemos em conversa com Tiago Nalha, o organizador do festival dominado completamente por música portuguesa e com um cartaz cheio de sonoridade. Estamos a falar do Indie Music Fest, localizado no Bosque do Choupal. Tiago expressa claramente que corre por gosto, e que é certamente um prazer organizar o festival apesar de certas entraves e dificuldades causadas por não existir nenhum apoio financeiro de marca ou do estado. Pretende continuar a desenvolver o projecto com empenho e já recebeu algumas propostas para mudar a localização do festival. Também dá dicas para organizares o teu próprio festival e convence-te a ires ao Indie Music Fest no dia 31 de Agosto.

Qual foi a motivação inicial e principal para a realização deste festival?
Foram várias, ele nasceu da vontade de um grupo de amigos fazer o que mais gosta, ver concertos! Todos ligados à musica, cada um na sua área. Começou numa esplanada de bar, numa tarde de verão no “Indie Bar”, que era a 300m do recinto. Essa edição foi para 200 pessoas e teve nomes como Slimmy, Solution, Rui Taipa, Elias e outras bandas mais pequenas. Apenas um dia, para amigos com o mesmo gosto pela música alternativa. Foi uma celebração entre amigos em que a ideia seria fazer algo numa tarde de calor, com cerveja, bifanas e concertos à mistura, basicamente esgotou nas primeiras horas o que nos levou a pensar mais à frente.

Quais são os critérios da organização para a escolha do cartaz? Pensam em quais as melhores bandas ao vivo? As bandas com mais “buzz” no momento? As bandas que mais gostam de ouvir?
São vários, acima de tudo o nosso gosto pessoal. Depois que tenham um disco ou EP editado recentemente, qualidade em cima do palco, etc… Continuam mais de 200 bandas na nossa lista e todos os anos aparecem novas bandas que nos fascinam. Não fazemos um cartaz pelo “buzz” que a banda tenha, até porque em todos os cartazes que construímos saem bandas que ninguém conhece e no ano a seguir estão a tocar em grandes palcos e festivais, com excelentes criticas da imprensa nacional e a tocar nas rádios que apoiam a musica nacional. Isso deixa-nos contentes, até porque tentamos sempre fazer um cartaz muito ecléctico, actual e emergente.

Gostamos de mostrar o que de melhor se faz em Portugal! Limitados não estamos, até porque todos os dias recebemos propostas de novas bandas com muito bom som feito em Portugal.

O facto do cartaz ser apenas composto por músicos portugueses é uma caracterização ou uma limitação?
É caracterização! Gostamos de mostrar o que de melhor se faz em Portugal! Limitados não estamos, até porque todos os dias recebemos propostas de novas bandas com muito bom som feito em Portugal. Claro que se tivéssemos uma possibilidade financeira melhor, fazíamos um cartaz com alguns nomes internacionais. No entanto, o festival nasceu com bandas nacionais e se algum dia internacionalizarmos o line up, será um bom passo para ajudar a música portuguesa, mas o cartaz será sempre maioritariamente nacional!

Fala-nos um pouco sobre a decisão de elaborar o festival no Bosque do Choupal. Imaginas o festival a mudar de localização?
Foi um passo que nasceu sem pensarmos nele, só quando fizemos a primeira edição é que nos apercebemos que estamos com um festival no meio de um Bosque, e que era uma cena inédita, exclusiva, única e original em Portugal. Esperemos bem que não seja preciso mudar de sítio. No entanto, já tivemos solicitações de vários municípios para levar o festival para sítios parecidos. Preferimos criar outros projectos nesses locais de município interessados. Preferimos não pensar na possibilidade de levar o festival para outro lugar, ele está bem enraizado no Bosque do Choupal em Baltar, portanto nunca fez muito sentido ponderar isso, por muitas mais ofertas que já nos tenham sido apresentadas.

Este ano existem mudanças e/ou novidades em termos de infraestrutura? (palcos, restauração, actividades, etc)
Muito poucas, até porque uma estrutura de um festival que nunca teve apoio financeiro de marca ou do estado, conseguir todos os anos fazer algumas alterações é muito bom. Para além de ser muito dispendioso, achamos que o recinto está bem estruturado, está giro, confortável e dinâmico. Todos os anos aumentamos a área do campismo, aumentamos os wcs e a limpeza dos mesmos, aumentamos os autocarros de transfer e este ano voltamos a fazer algumas melhorias significativas. Para além de este ano termos um novo local para os festivaleiros passarem as suas tardes, o Furia, um parque de wakeboard onde todos os festivaleiros podem mergulhar, fazer paddle, andar nas suas bóias ou até mesmo, claro, experimentarem wakeboard.

De onde surgiu a ideia para o conceito celebrativo deste ano, “5 Anos / 5 Bandas”? E porquê estas bandas?
Bom, 5 anos é algo significativo para qualquer projeto que começou do nada e sem apoios. O IMF assim foi, portanto achámos que estava na hora de trazermos algumas bandas que fizeram parte da história do festival. Por nós faríamos todos os cartazes num só festival, mas não é possível, então tivemos de filtrar as bandas que tinham editado recentemente e que fossem bandas que tenham aproveitado a “rampa” de terem tocado em edições anteriores no festival e que hoje sentisse-mos que já estavam mais maduras e experientes em palco. Somos um festival que alavanca muitas bandas e este conceito nasceu para “alavancar” ainda mais bandas que aproveitaram o conceito original do festival. Não faria sentido criar este conceito com nomes já consolidados como Linda Martini, Capitão Fausto, Paus, Brass Wires Orchestra, entre outras…

O Indie Music Fest cresceu bastante desde a sua primeira edição. Pretendem continuar a fazer mais e melhor depois desta 5º edição? Como é que imaginas o festival no futuro?
Sim sempre, claro! Vejo com muitos bons olhos, estamos numa fase em que já estamos a despertar o interesse de marcas e do município, portanto vejo um futuro bonito para o festival. Temos muitas ideias e conteúdos que gostávamos de fazer, não o fazemos já porque não é a altura e preferimos ter o suporte de uma marca e do município para o fazer. A única coisa que podemos dizer é que serão incríveis, vocês vão gostar, oxalá que chegue essa altura. Neste momento estamos focado nesta edição.

Somos um festival que alavanca muitas bandas e este conceito nasceu para “alavancar” ainda mais bandas que aproveitaram o conceito original do festival.

No geral, quais são as maiores dificuldades durante a organização?
Para qualquer festival em Portugal é sem dúvida a angariação de apoios e patrocínios! Nenhum festival em Portugal consegue ser feito sem o apoio e colaboração de todas as pessoas e entidades envolventes. Dificilmente um festival consegue sobreviver só de bilheteira e bar, os custos de produção são gigantes e a receita só consegue fazer face às despesas em edições perto de esgotarem, ainda assim os festivaleiros têm de vir com vontade de beber cerveja.

Qual o principal conselho para aquele pessoal que também quer organizar o seu festival?
Pensem bem antes de o fazerem. Mas sim, têm o nosso apoio se for algo original e com estrutura. Todos os anos existem novos festivais mas depois não voltam acontecer… Com pena minha, porque as bandas vivem em cima de palcos. São poucos os festivais que se possam considerar festivais e que acontecem consecutivamente e que trabalhem para o crescimento e melhoria.

Como convences alguém que nunca foi ao Indie a ir?
Falo apenas do que realmente é o festival, do conforto, da festa que se vive durante 3 dias no Bosque e pela celebração e apoio à musica portuguesa! Quem vai volta! Tem sido assim graças a deus.