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The Black Wizards, Músicos Analógicos Numa Era Digital

The Black Wizards, Músicos Analógicos Numa Era Digital

Nero

Devotos aos mágicos anos 70, Paulo Ferreira e Joana Brito falam-nos do som da banda e do seu som de guitarra.

Na base de tudo está o blues. Depois a agressividade de Zeppelin e o peso de Sabbath. Por cima de uma vontade de jam, possivelmente nascida a ouvir os Cream, surge o charme feminino ao melhor estilo de Heart, em “Little Queen”, de 1977. As poções de Black Wizards são feitas com receitas retro e xamanismo fuzz. Joana Brito, Paulo Ferreira, Helena Peixoto e João Mendes descrevem-se de modo perfeito, como «quatro músicos analógicos, nascidos na era digital».

Sejamos sinceros, não há melhor era que os 70s, ao nível da arte em geral

Em entrevista à Arte Sonora, é Paulo Ferreira quem traça o início da banda. Conhecia Joana Brito de um projecto anterior, então os dois guitarristas decidiram que queriam dedicar-se com maior seriedade a uma banda. O músico recorda: «Compramos uma bateria e começámos a tocar. No início, tocávamos bateria e guitarra à vez. Depois percebemos a necessidade de adicionar mais elementos às nossas músicas e entrou um baixista e, mais tarde, chegou a Helena para a bateria. Depois de 3 baixistas, o Mendes fechou a formação». Parece alguma forma de bruxaria matemática: dois homens e duas mulheres. Uma simples curiosidade, garante Paulo Ferreira:«Não existiu qualquer bruxaria premeditada, para nós isso é irrelevante, uma vez que o que importa é a tua essência enquanto músico e pessoa, independentemente se és homem ou mulher».

Paulo Ferreira e Joana Brito falam-nos sobre o som retro de Black Wizards, de pedais e da gravação do aclamado álbum de 2015, “Lake Of Fire”, primeiro LP da banda.

Na verdade, um gajo acorda de manhã e pensa «vou ouvir o Master Of Reality»

O que vos motivou a recuar ao final da década de 60 e década de 70? Um gajo não acorda um dia de manhã e decide «vou ouvir o “Master Of Reality”»…
Paulo Ferreira: Na verdade, um gajo acorda de manhã e pensa «vou ouvir o Master Of Reality». No fundo, não se trata de motivação, é mais uma cena que nasce contigo. Identificamo-nos com a música dessa altura porque era bem tocada, com alma e coração, e muito genuína. E depois porque, sejamos sinceros, não há melhor era que os 70s, ao nível da arte em geral. Não fomos nós que recuamos até aos 70s, foram mais os 70s que nos encontraram. A nossa identidade musical assenta em transpor todos os nossos sentimentos e emoções na nossa música. Nunca nos preocupamos em seguir um tipo de sonoridade, até porque há uma diferença grande entre o EP e o álbum. A música que fazemos reflecte sempre o nosso estado de espírito e a nossa posição no universo naquele momento.

O corpo sonoro da banda é, à falta de melhor termo, bastante retro – soa analógico, de facto – que amps/pedais, no geral, são nucleares no vosso som?
Joana Brito: Actualmente, eu e o Paulo usamos o mesmo amp, um Ibanez TSA 15H, que tem um clean bem bonito e o Tube Screamer integrado no circuito. O nosso segredo é carregar com força no fuzz. Os pedias cruciais do meu rig são um Big Muff russo e o Whammy 5. Depois tenho mais umas coisas de modelação que só uso em algumas músicas e mais um overdrive da Hardwire. O Paulo usa um fuzz da MXR e um wah. O Mendes usa um senhor Morley Fuzz-Wah que é uma maravilha.

2015 viu estrear o primeiro LP “Lake Of Fire”, edição Raging Planet. Depois da estreia com a demo/EP “Fuzzadelic, em Fevereiro de 2015, no LP ouve-se a banda a soar mais orgânica, com um corpo sonoro dentro da melhor tradição do rock gravado em fita e sem pudores nas jam. Gravado em take directo único, “Lake Of Fire” é um trabalho congregador de laudes junto de público e media – para a Arte Sonora, teve lugar entre os melhores discos nacionais do ano. Vale também a pena salientar a capa deslumbrante, com ilustração de Vasco Duarte.

2015 viu estrear o primeiro LP “Lake Of Fire”, edição Raging Planet. Depois da estreia com a demo/EP “Fuzzadelic, em Fevereiro de 2015, no LP ouve-se a banda a soar mais orgânica, com um corpo sonoro dentro da melhor tradição do rock gravado em fita e sem pudores nas jam. Gravado em take directo único, “Lake Of Fire” é um trabalho congregador de laudes junto de público e media – para a Arte Sonora, teve lugar entre os melhores discos nacionais do ano. Vale também a pena salientar a capa deslumbrante, com ilustração de Vasco Duarte.

Há um pulo qualitativo em “Lake Of Fire”, em relação a “Fuzzadelic”, que soa menos orgânico e dinâmico. Teve a ver com algum trabalho específico de preparação para o LP ou foi apenas um reflexo de maior intensidade de ensaios, de levarem mais a sério a banda?
Joana Brito: Foi um reflexo de várias coisas. Primeiro, na altura do EP ainda andávamos sempre à procura do baixista certo e a coisa ainda não estava muito consolidada. Depois, com a entrada do Mendes ficámos muito mais consistentes e começámos a trabalhar todos para o mesmo fim e, obviamente, crescemos bastante como músicos e a nossa química enquanto banda fez com que o resultado do álbum fosse bastante diferente do EP. E depois porque também já não era a primeira vez em estúdio e já sabíamos como as coisas iam funcionar e o que tínhamos de fazer, embora tivéssemos gravado em condições bastante lo-fi.

A nossa preparação foi mesmo tocar até nos sentirmos confortáveis com as músicas

A gravação de “Lake Of Fire” foi mesmo live take?
Joana Brito: Foi em live take, sim. Estávamos todos dentro da mesma sala, com os instrumentos, basicamente a tocar todos juntos. A única coisa que gravámos à parte foi a voz. Na verdade, não houve assim uma receita prévia para a preparação do estúdio. A nossa preparação foi mesmo tocar até nos sentirmos confortáveis com as músicas. O que foi curioso, uma vez que algumas delas foram compostas 3 dias antes de irmos para estúdio.

E que referências discográficas levaram como guia para o som que pretendiam?
Joana Brito: Não levámos uma referência discográfica. Queríamos acima de tudo que fosse um álbum de Black Wizards e não outra coisa qualquer.

Referiram a gravação isolada da voz. Houve depois qualquer tipo de ajustes, nomeadamente overdubs vocais ou nos solos de guitarra?
Joana Brito: Foi tudo ao mesmo tempo mesmo. Se um solo te corria mal, basicamente, tinhas de gravar a música toda de novo. Por isso era melhor acertar à primeira! A única coisa que gravamos à parte, além da voz, foi algumas pandeiretas.

A primeira vez que estiveram em Lisboa, com os Asimov, resultou num final “agitado” de noite no Cais do Sodré (ouvi dizer)… Como foi a digressão? Abusaram, se mo permitem, de tudo o que a “estrada” tem para oferecer ou foram o epíteto do profissionalismo?
Joana Brito: De facto, já tivemos uns episódios caricatos em Lisboa, mas sim, a tour foi sem dúvida uma experiência do caraças. Obviamente que cometemos as nossas loucuras, mas digo-te já que a vida de estrada não é assim tão gira como as pessoas, por vezes, pensam. É vida dura, para as costas e para a cabeça. Mas acho que, no nosso caso, tivemos um equilíbrio saudável.

No próximo dia 01 de Setembro, a banda edita o seu segundo álbum, “What The Fuzz!”, novamente com o selo Raging Planet.