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Bon Jovi @ Bela Vista

Nero

A tarde iniciou com os Red Lizzard e os Klepht que, além do som extremamente estrangulado, não conseguiram cativar os presentes que ali se deslocaram apenas com um propósito – ver o único mega-concerto que ocorreu no nosso país este ano.

Quando os Bon Jovi entraram em palco exortaram imediatamente o público a levantar as mãos, com “Raise Your Hands” que mostrou uma impressionante moldura humana (cerca de 60 mil pessoas) em comunhão instantânea com a banda e o público feminino a elevar a primeira ovação quando Jon Bon Jovi subiu ao impressionante palco que acolhia a banda. E se nem todos cantavam ainda, ouviu-se uma enorme onda vocal aos primeiros acordes de “You Give Love A Bad Name” – um acolhimento triunfal, e não refiro apoteótico porque o som que serviu o concerto impede esse adjectivo, esteve sempre muito baixo, uma falha da estrutura de digressão da banda, que não planeou a potência de watts necessária para que o som atingisse toda a extensão do espaço com a mesma intensidade.

Ainda assim, se poderia esperar-se que o público mais recuado se “afastasse” da banda, essas dúvidas são dissipadas com “Born To Be My Baby”, em que Richie Sambora (que esteve, de facto, presente… e de que maneira!) começava a aquecer – um paradigma que sempre esteve presente nas grandes bandas de estádio é um vocalista carismático e um guitarrista que seja “um mundo” a tocar – basta ver-se o filme “Almost Famous” para se aprender esta lei – e Richie Sambora é um dos grandes nomes da história da guitarra rock. Sem dar tempo ao público de sossegar a banda toca “We Weren’t Born To Follow” e o grande ecrã que serve de parede traseira ao palco deslumbra com as mensagens positivas de liberdade, de apelos fraternos e com grandes figuras da paz e da música – uma evocação de positivismo ingénuo tão ao jeito norte-americano.

 

Parecia estar contudo a faltar alguns clássicos e o público esmoreceu um pouco com “Lost Highway” logo a seguir. Estes não são os temas da era de maior fulgor criativo dos Bon Jovi afinal. A banda combate essa sensação com “It’s My Life” e, por falar em clássicos, “Get Ready” – o último tema do álbum de estreia em 1984 – onde Richie Sambora, depois de ter aquecido nos mostra o solo da noite? O público não conhece bem o tema e dá a sensação de não apreciar um dos melhores momentos da noite. O álbum “Keep The Faith” é mais conhecido e também um dos seus singles “These Arms” – Jon Bon Jovi é que parece não conhecer tão bem, é David Bryan quem canta a 2ª estrofe e o vocalista engana-se num dos refrões. É o último concerto da tour, desculpa-se.

É tempo de passar pelos últimos trabalhos e surge um dos melhores temas da fase actual da banda – “We Got It Goin’ On”, com um “rifalhaço” pesadão e “gordo” que nos faz lamentar uma vez mais o pouco output de PA. “Captain Crash & The Beauty Queen From Mars” passa despercebido, exige-se outro clássico e Jon faz a pergunta que todos queriam ouvir: “Is there a doctor in the house?”. “Bad Medicine” surge com um paradoxo curioso nas projecções do ecrã gigante; afinal as moças que surgem a dançar ali parecem cheias de saúde! A meio do clássico a banda faz soar, em medley, “Gloria” (um original de Van Morrison) e “Pretty Woman” (de Roy Orbison). Depois da explosão o romantismo e, em modo semi-solo, Jon Bon Jovi canta “(It’s Hard) Letting You Go”, seguida de “When We Were Beautiful”. Contudo, nenhum destes down tempos tem o alcance emocional de “I’ll Be There For You”, que ensopa a audiência de azeite, mas quem não gosta de molhar o pão no azeite? Um coro gigante na Bela Vista entoa a melodia vocal final e no fim do tema pede-se outro clássico que acabará por não se ouvir – “Never Say Goodbye”. O tema valeu outra das grandes ovações da noite e as palmas irão manter-se até “I’ll Sleep When I’m Dead”!

Após tantos momentos de protagonismo por parte do vocalista, Richie Sambora desperta de novo e levanta de novo a dúvida em “Any Other Day” – terá sido agora o solo da noite? – e depois com a vistosa Telecaster doubleneck, em “Have A Nice Day”. O concerto aproxima-se do fim, contudo é preciso manter a fé, “Keep The Faith” antecede o encore.

De volta ao palco a banda traz “These Days”. E então o grande momento: “Wanted Dead Or Alive”. Aqui Richie Sambora toma conta do palco e da plateia – desde o dedilhado que nos transporta para as grandes pradarias no velho Oeste, assumindo também a maior parte das linhas vocais e, aqui sim, o solo da noite! Quem for guitarrista entenderá isto! “I Believe” e “This Ain’t A Love Song” são desenquadradas para uma despedida, são precisas bombas como “Living On A Prayer” para se sair com um BANG! Esse foi o elemento que acabou por faltar nos momentos finais, “Always” é muito branda, “I Love This Town” é usada para cativar qualquer cidade da digressão que terminou em Lisboa e “Twist & Shout”, celebrizado pelos Beatles, mas um original dos Isley Brothers, deixou a sensação que os três temas finais podiam ter dado espaço a outros clássicos, “Runaway” alguém?

Agora são 2 anos de férias para a banda de New Jersey. Quanto aos promotores portugueses, a enchente deste concerto fez-me pensar em AC/DC em Alvalade e no quanto é tão melhor um concerto a uma enxurrada de bandas num festival. O público responde, pode ser que os agentes ouçam!

Fotos Pedro Mendonça