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Extreme foi Extremo

Extreme foi Extremo

2014-07-01, Armazém F, Lisboa
Nero
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Os Extreme tornaram a celebração de “Pornograffitti” numa tempestade eléctrica. Um dos concertos do ano!

Que estalo de som. É verdade que os triggers na bateria retiraram alguma dinâmica ao som, mas a potência que acrescentaram (e considerando as limitações do Armazém F) compensou largamente esse factor. No final, esse foi apenas um detalhe, por dois fortes motivos: a) porque Nuno Bettencourt é um furacão dinâmico ele próprio e foi sempre o definidor de groove nos álbuns dos Extreme, muito mais que a bateria e b) porque Kevin Figueiredo teve uma prestação borderline punk (directa e agressiva).

É normal que, desde 1990, “Pornograffitti” soasse diferente – é, desde logo, um baterista diferente – com algumas nuances melódicas renovadas e outro tipo de energia, mas o que sucede é que neste tipo de digressões, as bandas acabam por mortificar o seu trabalho. Já os Extreme revitalizaram o disco. E, com excepção, do adorado “More Than Words”, da pouco ortodoxa (em relação ao disco) “When I First Kissed You” e “Song For Love”, a celebração de “Pornograffitti” foi uma tempestade eléctrica. O álbum é como é, como está gravado. A sequência de abertura é de cortar a respiração… “Decadence Dance”, “Li’l Jack Horny”, “When I’m Presidente” e “Get The Funk Out”. Credo, é obrigatório parar um pouco sobre Nuno Bettencourt.

O shredder açoriano poderia ter escrito um livro ontem sobre como se dá um concerto de guitarra e de qual o papel do instrumento numa banda de rock – tornar canções excitantes!

O shredder açoriano poderia ter escrito um livro ontem sobre como se dá um concerto de guitarra e de qual o papel do instrumento numa banda de rock – tornar canções excitantes! A verdade é que, Bettencourt é mesmo um dos melhores guitarristas do mundo, com a tradição clássica de Page ou Hendrix, com a agilidade de execução e criativa de Eddie Van Halen, com toques do neo-classicismo de Rhoads e o groove de Zakk Wylde. Virtuoso, pertinente e divertido sem palhaçadas como se vê em concertos, dos mais reputados shredders que actuam a solo, que são enfadonhos exercícios de ego. Se tivesse sido convocado para o Mundial, como ponta-de-lança, Portugal estaria na final para ganhar.

Numa banda que se apresentou numa forma soberba, Pat Badger teve um som que permitiu que se perceba mais o seu trabalho de harmonização e dobragem de muitos apontamentos melódicos de Bettencourt e Gary Cherone esteve irrepreensível. Ainda que pareça que os temas fossem executados com algo como meio tom ou tom inteiro abaixo na afinação, isso também é recorrente em digressões de gente bem mais nova.

O vasto encore começou com o momento mais “extremo” da noite. “Play With Me” é como o epítoma de uma era, de um género e de uma cultura. É muito mais que palavras (sim, o trocadilho foi deliberado, em ambos os sentidos). Seguiu-se a explosiva “Rest In Peace” e a Halenesca “Am I Ever Gonna Change”. Eram cerca das 23h quando passou junto ao Tejo o “Midnight Express”, a alta velocidade, e “Colour Mind”, com mais uma evocação a Van Halen, com uma “chamada” a “Eruption”. O final viria sob o anúncio “Cupid’s Dead”. Duas coisas que não dá para perdoar. “Suzi (Wants Her All Day What?)” é um malhão que não existe na edição em vinil de “Pornograffitti”. O diabo que carregue as editoras! E a ausência do “Kid Ego” da setlist é incompreensível…

SETLIST

  • Pornograffitti (integralmente)
  • Play With Me
  • Rest In Peace
  • Am I Ever Gonna Change
  • Midnight Express
  • Colour Me Blind
  • Cupid’s Dead