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NOS Primavera Sound: Os melhores do Palco Super Bock

NOS Primavera Sound: Os melhores do Palco Super Bock

Pedro Miranda

Lado a lado com o Palco NOS, o Super Bock apresentou um cartaz sólido, proporcionando belos concertos aos visitantes do NOS Primavera Sound.

Considerado apenas em termos estéticos, o Palco Super Bock poderá facilmente ser considerado o mais belo de todo o NOS Primavera Sound. Para além da simples (mas elegante) decoração da própria estrutura, o palco é limitado em ambos os lados por belas árvores que coroam o espaço, desembocando ao fundo numa colina íngreme onde nunca faltaram festivaleiros que, por um motivo ou por outro, escolheram acompanhar os concertos de longe, sentadas ou deitadas pacificamente no relvado que a permeia. Entre os vários concertos que tiveram lugar no Super Bock, intermitentemente com o Palco NOS, a Arte Sonora destaca os que se excederam em qualidade.

6. Destroyer (Vancouver, British Columbia, Canadá)
A segunda banda a tomar o Palco Super Bock no dia 10, depois dos lusos White Haus, fez os possíveis para agradar a plateia que a eles tinha comparecido dadas as condições em que tocaram: flagelados por problemas de som, que por vezes rendiam dolorosos os sons dos sopros que costumam embelezar as canções pop dos canadianos, Destroyer foi ainda assim capaz de florir uma tarde notavelmente assolada pelo tempo frágil, encontrando, nas suas melodias simpáticas, caminho até ao coração do ouvinte. Num concerto que claramente se assistia melhor sentado, contemplando a paisagem, o mar de pessoas que se ondulava para um lado e para o outro e o pôr do sol que vagarosamente se ia instalando, de Destroyer não se pediria mais: belas canções de fim de tarde, em preparação para o que viria depois.

Melhor momento: “Times Square”, o volumoso lead single do mais recente álbum de Destroyer, destacou-se particularmente pela leveza com que foi executado, fazendo brilhar as características que melhor soam em “Poison Season”.
[Clica na imagem para ver mais fotos. ©Inês Barrau]

5. Kiasmos (Islândia)
Um dos mais antecipados actos do festival, Kiasmos são Ólafur Arnalds e Janus Rasmussen, dupla de techno oriunda da Islândia que tem suscitado curiosidade quanto à sua abordagem minimalista e progressiva à música electrónica. E curiosos, de facto, não faltaram à meia noite do dia 10, altura em que era suposto estar a começar a tocar a dupla. Problemas técnicos, no entanto, testaram a resiliência da plateia, obrigando Kiasmos a ausentar-se do palco por cerca de 20 minutos já depois de se terem apresentado formalmente. Salvo o pequeno contratempo foi, de resto, uma performance de valor: sem grandes precipitações e conduzindo pacientemente as camadas que iam sobrepondo umas às outras na criação dos seus temas, Arnalds e Rasmussen deram um espectáculo relativamente pacato (como é, afinal, grande parte do seu disco de estreia, “Kiasmos”) mas com grande primor por texturas e qualidade sonora, armando de batidas a pequena grande discoteca que viam formar-se à sua frente. Tendo sido talvez melhor aproveitados se colocados num contexto de after-party no Palco Pitchfork, deram, não obstante, provas do seu valor e um bom cartão de visita a quem não os conhecia.

Melhor momento: “Looped”, a canção de abertura neste NOS Primavera Sound, possuía todas as características para se coadunar com o espectáculo pretendido pela dupla: nocturna e dançável, leve no acelerador mas também não tão lenta a ponto de se tornar massuda, fez especialmente boa figura neste set de Kiasmos.
[Clica na imagem para ver mais fotos. ©Hugo Lima]

4. Parquet Courts (Nova Iorque, E.U.A)
Outro dos actos que teria cabido bem em situação de after (lembremo-nos de há dois anos, quando Cloud Nothings subiam ao palco Pitchfork às 2h55 da manhã), os Parquet Courts foram ferro e fogo no primeiro dia do NOS Primavera Sound. Apesar de nem todos terem podido apreciar o concerto devidamente e na sua íntegra (afinal, o acontecimento que era Animal Collective no palco ao lado pedia chegada antecipada), o grupo nova-iorquino deu tudo de si no palco Super Bock, sendo já conhecido pelo público português por trazer espectáculos de valor – basta que recuemos a 2014 para encontrarmos uma performance celebrada no NOS Alive. Riffs abrasivos, secções alongadas em tiradas impromptu e o característico grunhido vocal da dupla de frontmen Andrew Savage e Austin Brown fizeram um concerto digno, diverso nas épocas e álbuns da banda e de stamina admirável.

Melhor momento: “One Man No City”, do mais recente “Human Performance”, lançou os Parquet Courts numa espiral de repetição, solos tão frenéticos quanto desajeitados e uma apetência por cerveja e cigarros que deixou a plateia tudo menos indiferente.
[Clica na imagem para ver mais fotos. ©Inês Barrau]

3. Algiers (Atlanta, Georgia, E.U.A)
Se o mero conceito desta banda é, por si só, desconcertante, muito mais terá sido o concerto que trouxeram ao Parque da Cidade do Porto. Um grupo norte-americano com o nome da capital da Argélia, mesclando técnicas do gospel e do soul com a estética rígida e implacável do post-punk  e do noise, e tratando temas como a discriminação, a democracia e a filosofia parece demasiado para se digerir de uma só assentada. E, de certa forma, foi essa dureza que se verificou na actuação dos Algiers, embora colorida pela crua habilidade e entrega dos músicos que a protagonizaram. Num tom sério e austero, intercalando muitas vezes os seus temas com clips de discursos anti-racistas, eram constantemente intensos na execução dos seus temas de timbres electrónicos arrasadores, potenciados grandemente pela presença carismática e surpreendente habilidade vocal do frontman Franklin James Fisher.

Melhor momento: Dando mostras da sua versatilidade, Algiers acalmaram os ânimos, até aí escaldantes, para uma belíssima performance de “Games”, um belo contraste em relação a toda a dissonância que se verificava e a mais autêntica mostra das potencialidades melódicas de uma banda que ainda tem muito para onde evoluir.

2. Explosions in the Sky (Austin, Texas, E.U.A)
Assistir a um concerto de post-rock configura quase sempre (desde que a banda em questão seja, efectivamente, boa) uma experiência que beira o transcendental, dadas as condições correctas. Reunidas as ditas condições, muito mais então tratando-se de uma das figuras centrais do género no panorama global, alvo de incontáveis plágios e fonte ainda maior de inspiração – os Explosions in the Sky chegaram, maravilharam e tão sucintamente saíram, sem grandes formalidades ou muitas palavras que os apresentassem. As únicas proferidas foram em português  – “Nós somos explosões no céu” – uma formulação adequada e bastante expressiva no que diz respeito ao rock ora divino, ora infernal que invocavam no Palco Super Bock. Num set meras 5 canções (tinham, afinal, não mais que uma hora para apresentar os seus temas que frequentemente se estendem para lá da considerada duração normal), procuraram trazer um pouco de cada um dos seus discos para a mesa, compondo uma performance equilibrada, tecnicamente prodigiosa e, qualquer que fosse o estado de espírito que quisessem fazer passar, profundamente emocional.

Melhor momento: Não é à toa que é frequentemente considerada uma das melhores canções do grupo: “Greet Death”, do contundente “Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever” ilustrou na perfeição o alcance sónico da banda, expresso aqui em ambas as suas extremidades. A uma implosão magnífica de caos e ruído seguiu-se o momento mais silencioso do concerto, com gentis toques no baixo e na guitarra a formarem um dos mais comoventes momentos do festival.
[Clica na imagem para ver mais fotos. ©Inês Barrau]

1. Battles (Nova Iorque, E.U.A)
Senhores incontestáveis da noite tanto pelo vigor quanto pela audácia, dificilmente poder-se-ia atribuir o primeiro lugar deste palco a um grupo que não os Battles. Com salvaguarda pelo espectáculo das Savages, que, ao que tudo indica, também estiveram muito bem (por mais desejável que seja, não se pode assistir a tudo), a ambição da música experimental do trio parecia não conhecer limites, à medida que investiam em samples cada vez mais obtusos e tons de guitarra angulares, que pareciam fugir ao domínio da plateia por mais que ansiasse agarrá-los. A isto juntava-se mais um conjunto admirável de componentes que se entrelaçavam de forma mesmerizante, com destaque para os vários timbres de sintetizadores que, para além de cor, denotavam uma espécie de humor intrínseco à música da banda, cuja graça não retirava, não obstante, qualquer parte do seu ímpeto. A ribalta foi sempre, apesar de tudo isto, da imponente bateria de John Stanier, que não perdia oportunidade de exibir o seu poderio, por mais rectilíneas que fossem as suas incursões. Uma performance dificilmente imediata pelo seu vanguardismo, e bastante complicada de se digerir, mas ainda assim trazendo a relativa leveza de quem, afinal de contas, faz música para se dançar (ainda que para pessoas com gostos mais que peculiares) e é retribuído a mãos cheias por um público que não se cansou de pedir por mais.

Melhor momento: Como não poderia deixar de ser, a inconfundível “Atlas” foi a que mais brilhou no set dos Battles, reconhecida e aplaudida instantaneamente pelos fãs, e apreciada a cada segundo dos quase 10 minutos em que foi executada.