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Reverence Valada: Não há como parar Thee Oh Sees

Reverence Valada: Não há como parar Thee Oh Sees

2016-09-08, Parque de Merendas Valada do Ribatejo
Pedro Miranda
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O cabeça-de-cartaz do mais curto dia de festival foi também o mais eficaz.

Ao seu terceiro ano, tudo no Reverence está como deveria: o retorno de alguns e estreia de outros em Valada serviu, em primeira instância, para consagrar o seu título de “festival underground“. Não, nem tudo são rosas no árido desterro que compõe o Parque das Merendas, onde se instalam o campismo e recinto do festival. O calor é sufocante, as moscas psicadélicas do tejo insuportáveis, o pó ímpio e as casas de banho o que se conhece da generalidade dos festivais de verão. Mas é à dificuldade e ao ambiente implacável que estão habituados os fieis fãs do Reverence, afinal de contas tão vincado na sua personalidade única, e perante o valor da música todos os outros perecem. Foi com o agrado de quem vê que, ano após ano, as características do festival se mantêm imaculadas que, após um início com algumas das bandas de destaque do rock e do stoner português, o Palco Rio abriu-se para o primeiro cabeça-de-cartaz do evento.

Ora, foi na sua última passagem por Portugal, aquando do digníssimo Vodafone Paredes de Coura deste ano, que John Dwyer, inconspícuo frontman de Thee Oh Sees, afirmara com convicção que “Não há como parar Portugal“. Na altura, a festa era efusiva, mas as dimensões demasiado grandes para uma banda que traçou todo o seu percurso em pequenos palcos frente a pequenos públicos. Hoje, à segunda visita do grupo ao país em menos de 3 semanas, sentimo-nos em condições de retribuir o elogio: não há como parar Thee Oh Sees, e qualquer tentativa de o fazer cairá forçosamente perante a sua magna potência em palco. A sua fórmula continua simples, a sua técnica minimalista, os seus resultados eficazes. E ali, onde se sentem mais à vontade, num pequeno palco frente a um pequeno público, tanto mais.

De um festival para o outro, é natural que a performance e alinhamento não se tenham alterado muito: os grandes singles continuam lá (“Toe Cutter/Thumb Buster”, “The Dream”), bem como as canções de “Mutilator Defeated at Last” (“Withered Hand”, “Web”) e alguns cortes do mais recente “A Weird Exits” – com destaque para a bem-recebida “Gelatinous Cube”. Mas mais que a setlist propriamente dita, é a crua pujança dos Oh Sees a qualidade verdadeiramente mesmerizante do seu espectáculo, no meio de um festival mais afecto a ritmos mais lentos e que só viu energia comparável com A Place to Bury Strangers, no dia seguinte. E num dos poucos moshpits que se viu  em Valada, o público deu suor e empurrões a confirmá-lo: não haveria cabeça-de-cartaz que igualasse, em concerto, a fúria do psych-punk de Dwyer e companhia. Cedo mostrava o Reverence que resistir ao ambiente hostil de Valada valeria a pena.