Robbie Williams, o homem que queria ser Sinatra

Quem pensasse que o Rock In Rio começaria a meio gás, com as pérolas do cartaz a surgirem apenas a partir de dia 29, estava redondamente enganado. 60 mil pessoas encheram o Parque da Bela Vista.

Como é recorrente suceder no RiR, no que diz respeito aos duetos, Aurea e Boss AC arriscaram muito pouco naquilo que poderiam criar juntos e, assim, o concerto, pouco memorável, não ofereceu muito mais que alguns singles repisados de cada um dos artistas. “Sexta-Feira (Emprego Bom Já)” continua a estar na mente de toda a gente e foi cantado a plenos pulmões – por uma parcela dos cerca de 2% da classe média-alta nacional ou por muitos dos cerca de 18% de desempregados que terão conseguido a ginástica de um bilhete. O Governo responde já a seguir.

Aurea & Boss AC

Paloma Faith

O soul pop de Paloma Faith demorou a ganhar “alma”. Temas como “Taste My Own Tears”, “Impossible Heart”, “Other Woman” ou “Trouble With My Baby” saturaram de choradeira pueril uma setlist que só valeu o concerto quando, a tão quadrada quanto eficaz, “The Bigger You Love (The Harder You Fall)”, aumentada ao vivo por jams instrumentais e corais, foi tocada com sumptuosidade e feeling.

Um dos momentos altos do primeiro dia de RiR, que esperava a chegada do tipo que subverteu a postura de menininho de ginásio das boys band ao ponto de tornar-se um alcoólatra e heavy drug user.

A cidade do rock torna-se num cabaret nova-iorquino, R. Kelly, Ray Charles, Cab Holloway, Jeff Richman e mesmo Sinatra, cruzado com Alicia Keys. É capaz de entreter, de facto, mas é impossível escapar à sensação de que a distância para as lendas do swing e big band é a mesma que existe entre o espumante e o champagne. Claro, há muitos para quem o que interessa é ter o copo cheio. Cá para nós, o que é mesmo bom é bourbon.

As opções de lazer que cada um escolhe só a si lhe dizem respeito. A forma como Williams pretende colorir o lazer do público é que se vai tornando cada vez mais clara. O britânico desejava ter sido Sinatra ou, pelo menos, um dos elementos do Rat Pack. O destino trocou-lhe as voltas e, em vez de salões em Vegas, defronta-se com festivais open-air de massas. Não há glamour, charutos, nem champagne, mas Williams faz tudo para viver essa ilusão e transpor essa mesma experiência para a sua plateia. Primeiro, arrebata-a com uma sequência vertiginosa de singles: a habitual abertura com “Let Me Entertain You”, “Let Love Be Your Energy”, “Monsoon”, “Rock DJ” (antecedido por um mashup de “We Will Rock You”, dos Queen, e “I Love Rock N’ Roll, de Joan Jett). Confessa-se com “Come Undone”, em que funde o sentido de permanente insatisfação humana de Lou Reed, com “Walk On The Wild Side”, e a sede que essa condição tem do transcendente que Bono cantava em “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”.

E então veste a pele dos seus sonhos. Como frontman de uma Big Band vinda dos anos 50. Sonho que gravou em “Swings Both Ways”. A cidade do rock torna-se num cabaret nova-iorquino, R. Kelly, Ray Charles, Cab Holloway, Jeff Richman e mesmo Sinatra, cruzado com Alicia Keys. É capaz de entreter, de facto, mas é impossível escapar à sensação de que a distância para as lendas do swing e big band é a mesma que existe entre o espumante e o champagne. Claro, há muitos para quem o que interessa é ter o copo cheio. Cá para nós, o que é mesmo bom é bourbon. Williams optou terminar com os açucarados super singles “Feel” e “Angel”.

Duas notas: é uma pena os Cais Sodré Funk Connection terem sido colocados como uma das bandas de abertura, no remoto Palco Vodafone. Teriam sido a banda da noite se tivessem tocado no horário de Ivete Sangalo, ali no Palco Mundo. Ainda assim, a Rainha do Axé é um furacão e o difícil é não ser levantado pela energia que a baiana exala. Tivemos que lutar para manter a postura e não expandir demasiado o batimento do pé no chão. Ah e que grandes pernões…

Cais Sodre Funk Connection

Ivete Sangalo

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Fotos: Catarina Torres