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Rolling Stones sob o encanto lisboeta

Rolling Stones sob o encanto lisboeta

2014-05-29, Parque da Bela Vista
Nero
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Em 1968, o jardineiro Jack Dyer, na sua lide, acordou uns ressacados Keith Richards e Mick Jagger. Ontem, Jack fez o mesmo no Parque da Bela Vista. Alegre e barulhento, o “Jumpin’ Jack Flash”, com aquele cruzamento de afinações entre o Open D da “Micawber” de Richards e uma afinação à “Nashville” de Ronnie Wood, podou a atenção das 90 mil pessoas que foram ver os Rolling Stones.

Um monte de gente que, logo a seguir, se manifestou de forma clara: “It’s Only Rock n Roll (But I Like It)”. “Live With Me” poderia ser uma forma dos Stones afirmarem que vivem connosco ou nós com eles. É aquele momento em que se fazem as contas à primeira vez que os vimos e, no caso deste escriba, foi há 19 anos! O tema iniciou também uma agradável incursão no álbum “Let It Bleed”, o mais representado na excelente setlist escolhida, talvez por ser o primeiro álbum que Mick Taylor gravou com os Stones, ele que anda em tour com a banda. “Gimme Shelter”, “Midnight Rambler”, “You Can’t Always Get What You Want” e “You Got The Silver” foram os outros temas do álbum clássico de 1969. Mais de metade do disco, gravado no Verão favorito de Bryan Adams. Dizia-se ontem que o canadiano andava por ali mas, se andava, não subiu a palco.

Diz-se que os Stones são dinossauros. E, de dinossauros, a única coisa que é visível a todos nós são algumas das suas pegadas. Pois bem, se há coisa que os Stones fizeram na sua carreira foi deixar grandes pegadas!

Quem acabou por subir, para um dos momentos altos da noite, foi Bruce Springsteen, em “Tumbling Dice” (malhão de “Exile On Main St.”, o único que tocaram de um dos álbuns favoritos de Keith Richards e um dos menos favoritos de Mick Jagger). Estaria com saudades de Lisboa ou veio apenas ver a sua filha numa prova de equitação? Por saudades ou cavalos, seria bom que para a próxima trouxesse a E-Street Band, pois levou um banho de amor do público. Por falar em cavalos e amor, “Wild Horses” é uma das melhores baladas do country/folk. É normal, diz-se que os Stones são dinossauros. E, de dinossauros, a única coisa que é visível a todos nós são algumas das suas pegadas. Pois bem, se há coisa que os Stones fizeram na sua carreira foi deixar grandes pegadas!

Mesmo as mais frescas, como “Doom And Gloom”. Esse malhão que os Stones gravaram há dois anos, seria uma pista para a excelente forma em que a banda está e que fez questão de mostrar em Lisboa. Velhos com almas novas que receberam Gary Clark Jr., novo com alma velha (lei-se num bom sentido), em palco, para “Respectable”. Os Stones influenciam-no. É normal. Os Stones influenciam muita gente. Mas também são influenciados, como se nota no balanço de “Out Of Control”, inspirado em “Papa Was A Rolling Stone” dos The Temptations. Não é a melhor malha dos Stones, mas isso é compensado de seguida com umas das melhores da noite, “Honky Tonk Women”. Foi a malhinha antes de Charlie Watts ir descansar um pouco, como a saúde lhe manda e como bem mereceu. Não bate nem com força, nem devagar. Bate como tem que bater. É fácil perceber que um perfeccionista de groove como Keith Richards diga que não tem um baterista que goste mais. Aquele swing, quando em vez de bater no hi hat puxa, antes, o prato para cima e retrocede ostensivamente a baqueta. Parece grosseiro, mas soa único e genial.

 “Sympathy For The Devil” (Aquele solo. Mal tocado. Bem tocado. Único de Richards)

“You Got The Silver” tornou-se num baluarte das actuações dos Stones e a própria introdução que Richards celebrizou, antes do tema, no filme de Scorcese é replicada com gosto pelo próprio, com uma ligeira nuance. «It’s good to be here… it’s good to be anywhere». Lendo a biografia do pirata percebe-se que seja motivo de regozijo ainda estar em qualquer lado. Mas é também essa soma empírica que lhe dá uma voz de blues com um carisma bastante próprio, que se ouviu ainda em “Can’t Be Seen”. “Midnight Rambler”, com Mick Taylor em palco, foi o momento agridoce. A partir daí, com a sucessão de super singles, sabia-se que o fim se aproximava rapidamente. A banda, que terá também percebido que estava perto de terminar, esticou temas como “Miss You”, “Sart Me Up” ou a vibrante “Sympathy For The Devil” (Aquele solo. Mal tocado. Bem tocado. Único de Richards), e saiu de palco.

O encore trouxe o pico emocional, com o Coro Ricercare Ensemble a acompanhar “You Can’t Always get What You Want”. Brilhante, pungente, bonito. Um mar de iPhones. Um mar de emoções. Quando se ouviram os acordes de “Satisfaction”, o sentido era claro. Ali, na última música, era impossível conseguir alguma. Estava-se pronto para recomeçar de novo…

When I’m ridin’ round the world / And I’m doin’ this and I’m signing that / And I’m tryin’ to make some girl / Who tells me baby better come back later next week /  ‘Cause you see I’m on a losing streak / I can’t get no, oh no, no, no / Hey hey hey, that’s what I say 

Fotos AGENCIAZERO.NET

SETLIST

  • Jumpin’ Jack Flash It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It) Live with Me Tumbling Dice Wild Horses Doom and Gloom Respectable Out of Control Honky Tonk Women You Got the Silver Can’t Be Seen Midnight Rambler Miss You Gimme Shelter Start Me Up Sympathy for the Devil Brown Sugar You Can’t Always Get What You Want (I Can’t Get No) Satisfaction