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The Legendary Tigerman, Trovões e Voodoo

The Legendary Tigerman, Trovões e Voodoo

2015-08-20, Paredes de Coura
Nero
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Concerto triunfal. Hinos de sexo, álcool, suor e sangue.

No final dos anos 70, dizia-se que, entre o schmaltz do homem branco e o blues do homem negro, havia nascido o rock n’ roll. Em toda a terra passou a existir uma banda a trovoar electricamente. «And the guitar man got famous / and the business man got rich». Paulo Furtado terá feito alguém rico mas, mais que famoso, acabou foi por tornar-se lendário. Se, dentro de anos, forem escritos compêndios do rock português, finalmente haverá algo acima das foleiras vagas ié-ié ou da bem comportada vaga surgida por cá após o punk. Então, «Let there be rock», escrever-se-á sobre o Legendary Tigerman e sobre concertos como o que deu no VPC’15. O melhor do festival, não fora a actuação de Charles Bradley.

A exuberante verdura da praia fluvial é transmutada em pântanos do delta blues. Os temas, acompanhados por Paulo Segadães na bateria e pelas intervenções de saxofone ou teclas de João Cabrita e Filipe Costa, soam maiores, necessariamente diferentes, mas permanecem crus na sua essência seca e dura, rítmica, obsessiva e psicótica, cheia de suor e mosquitos, de álcool excessivo e fetiches e paixões mal resolvidas. Paulo Furtado comprime a área à sua própria dimensão e enfia-nos a todos, com ele, num qualquer bar seboso, onde as tábuas de madeira transpiram a humidade do ar, os mosquitos são do tamanho de libelinhas, e o uísque é destilado num alambique caseiro, ali mesmo atrás do palco. Isto é música de sexo, suor e sangue.

The Legendary TigerMan sempre foi um extraordinário performer, em todas as suas vidas, mas actualmente possui o carisma daqueles foras-da-lei cuja manha os elevou ao topo social. Agora que olha para baixo para os que o procuravam abater, mostra-se magnânimo e dá-nos de volta aquilo que o colocou onde está, aquilo de que Bon Scott, outro incorrigível, cantava: «There was a 42 decibel rockin’ band / and the music was good and the music was loud / and the singer turned and he said to the crowd… LET THE BE ROCK»!