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The Soft Moon + Ninos du Brasil

The Soft Moon + Ninos du Brasil

2016-03-12, Musicbox, Lisboa
Pedro Miranda
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Como parte integrante da ecléctica Heineken Series, o Musicbox recebeu dois concertos internacionais de meritória exclusividade: The Soft Moon, projecto do multi-instrumentista americano Luís Vásquez (que havia passado em 2015 pelo Vodafone Paredes de Coura) e Ninos du Brasil, dupla italiana constituída pelos percussionistas Nicolò Fortuni e Nico Vascellari.

A abertura foi feita pelos Alforjs, trio experimental português que testou a paciência do público do Musicbox, enquanto se agarravam a instrumentos tão díspares quanto o contrabaixo clássico e o touchpad. Embora parecessem estar sempre a um passo da estética desejável de uma banda das suas disposições (muito por mérito das excelentes linhas de bateria que invocavam), a inconsonância exagerada que traziam ao palco, aliada aos gritos totalmente despropositados que iam largando, chegaram para frustrar as suas ambições.

Com as raízes bem assentes no pós-punk, mas revestindo a sua música de uma electrónica sempre acutilante, Vásquez mostrou-se capaz de assumir o comando em palco.

Em muito melhor tom entraram os estreantes em Lisboa The Soft Moon, colectivo mais procurado da noite e claramente aquele que fez encher a, até aí, timidamente populosa sala, que voltou a dispersar findo o concerto. Com as raízes bem assentes no pós-punk, mas revestindo a sua música de uma electrónica sempre acutilante, Vásquez mostrou-se capaz de assumir o comando em palco, quer na guitarra e sintetizador, aos quais mais se apegou, quer nas especialmente cativantes instâncias  em que se aliava à vertente rítmica.

Ao longo da hora que durou o concerto, era aparente que à surpreendentemente fiel plateia lisboeta da banda nenhum dos temas soou indesejado, mesmo que estes, muitas das vezes, se limitassem a pequenas frases melódicas em loop, que interagiam umas com as outras em combinações diferenciadas. Como uns Thee Oh Sees em modo rave (muito embora o nome que mais viesse à mente durante a performance fosse, sem dúvida, o de Joy Division), a repetição poderá ter soado abusiva, mas seria injusto postular que tivesse afectado o concerto como todo. Finda a apresentação de The Soft Moon, com direito a bem recebido encore de três músicas, era a vez dos italianos Ninos du Brasil fazerem as hostes, encetando uma animada festa para aqueles que no Musicbox permaneceram.

Festa essa levada a cabo com todos os clichés à palavra associados: havia a música electrónica, tocada através de um computador no canto da sala; os chapéus de fitas brilhantes, usados pelo par de músicos que fez questão de assumir a tarefa de animar a noite ao mesmo tempo que tocavam nos tambores e pratos (únicos instrumentos do conjunto); e até o confetti, espalhado animadamente pelo recinto, à medida que Fortuni e Vascellari desciam por turnos do palco, para dançar onde visivelmente mais lhes aprazia.

A sua música, que em disco carrega um psicadelismo muito reminiscente daquele que Panda Bear ou os seus Animal Collective costumam invocar com os seus padrões cerebrais, assumiu ao vivo uma componente techno muito mais vincada, como se de um DJ set com bateria à mistura se tratasse – mas sempre, naturalmente, com a influência dos ritmos brasileiros digna de menção de um Olodum futurista.

Foto: Musicbox Lisboa