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The Weeknd, Sol Negro

The Weeknd, Sol Negro

2017-07-06, NOS Alive, Passeio Marítimo de Algés
Carlos Garcia
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Na AS há uns tempos que esperávamos pelo concerto de The Weeknd em Portugal. Não ficámos desiludidos, mas também não foi memorável.

Foi ao som dos teclados épicos de “Starboy” que The Weeknd que fez a sua entrada triunfal no NOS Alive. E o título é apto para descrever este jovem herdeiro das muitas tradições da música negra norte americana. Michael Jackson será talvez a influência mais óbvia para Abel Makkonen Tesfaye, e o próprio já o admitiu,   especialmente a nível vocal (que, diga-se de passagem, surpreende ao vivo quem poderia pensar que nos álbuns esta era excessivamente trabalhada por efeitos e vocoders), mas a toada geral tem uma patine mais hip hop o que lhe dá talvez um gume afiado ao lado mais soul/ R&B. A arquitectura de palco vem reforçar a aura do menino estrela: para todos os efeitos ele apresenta-se sozinho em palco. A banda está lá, mas claramente separada de Abel por uma plataforma elevada. Afastados para o plano de fundo e com as projecções de ecrã tornam-nos em pouco mais do que silhuetas. A estrela está cá na frente.

“Party Monster” faz parelha com a primeira música, tal como no álbum e faz sentido que assim seja. São declarações de intenção em forma musical. Slow Jam como já lhe chamaram. Canções down tempo com muito groove e letras bem menos luminosas que a batida em que são cantadas poderia sugerir.

Canções down tempo com muito groove e letras bem menos luminosas que a batida em que são cantadas poderia sugerir.

É na pilhagem de samples de fontes não convencionais para o R&B como Siouxie ou Beach House que a música de The Weeknd adquire um certo contorno de tensão latente subjacente à festa. A toada lenta de canções como “Six Feet Under” ou “SideWalks”  (aqui sem Kendrick Lamar), sugerem mais do que a festa, a ressaca que se aproxima. Nessa linha “Earned It” seria uma daquelas quase baladas negras R&B perfeitas, não fosse o facto de estar tão para todo o sempre associada a um dos filmes sem piadinha nenhuma da história do cinema.

Na recta final as projecções tornam-se num caleidoscópio de psicadelismo funky. Daft Punk meets Funkadelic. É neste encontro entre uma electrónica indie e o melhor do R&B que The Weeknd mais ganha força e identidade, deixando para trás fantasmas de um R. Kelly e vendo-se ali o potencial de alguém que pode vir a revolucionar a árvore de um género que tantas vezes se torna meloso e preguiçoso. Como Michael Jackson e Quincy Jones o fizeram há tantos anos. “Rockin” tem a energia cinética que caracterizava os melhores momentos do rei da pop. A guitarra quase slide que acompanha o refrão de “Secrets” dá-lhe um apuro em relação à versão gravada.

“I Feel it Coming” é feita para contagiar qualquer pista de dança cósmica com o dedo dos Daft Punk a dar-lhe o tom sci fi. Icónica é o que pode dizer desta música. E muito muito dançável, a julgar pela forma como o chão do Alive assumiu uma aparência muito mais disco. “The Hills” vem com cascatas de fogo e efeitos de fumo a encerrar a primeira noite em jeito de festa.

The Weeknd apresentou-se ao vivo como uma estrela, se calhar, demasiado egocêntrica. Temos pena que os músicos que o acompanham não tenham tido um brilho extra em todo o gig, como foi dado em “The Hills” ou em “In The Night”.

Fotos: Tomás Lisboa