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Vodafone Paredes de Coura’17 | Dia 2

Vodafone Paredes de Coura’17 | Dia 2

2017-08-17, Paredes de Coura
Bernardo Carreiras
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Ao segundo dia de festival o recinto já se mostrava composto, provando o porquê de os passes gerais estarem esgotados.

Foto: © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Os You Can´t Win Charlie Brown foram a escolha certa para abrir o palco principal. A voz harmoniosa de Afonso Cabral foi o complemento perfeito para aproveitar o sol que espreitava por entre as árvores de Coura. “Marrow”, disco lançado o ano passado, é a prova viva de que a banda merece o estatuto que conquistou e saltam para o clube dos nobres artistas nacionais a tocar neste palco.

Logo de seguida aguardava-nos o concerto que talvez tenha gerado mais hype nesta edição. Há semelhança de Mac Demarco ou Father John Misty, que em edições anteriores levaram fãs ao completo delírio, o conjunto de Toledo foi um dos mais aguardados. Depois da passagem pelo Nos Primavera Sound 2016, Will Toledo voltou em força e trouxe na bagagem o badalado álbum “Teens of Denial”. Numa lógica de DIY a banda entra em palco para montar e experimentar todo o equipamento. Aos primeiros acordes de “Fill in the Blank” começou o entusiasmo dos fãs. E era só o soundcheck. No dia a dia, Toledo passaria despercebido, mas por detrás dos seus óculos de massa e roupa aprumada está um dos jovens mais promissores da música internacional. Com apenas 25 anos e uma discografia de fazer inveja, os Car Seat Headrest estão a crescer e derão um concerto cada vez mais sólido e confiante. Will, apesar da timidez, sofre uma verdadeira catarse em palco e transforma-se num verdadeiro figurão que impõe respeito. Geek ou não, a verdade é que logo com “Fill in the Blank” e “Vicent” a banda começou a levantar a poeira do chão com inúmeros mosh e crowdsurfing.

É porém em “Drugs with Friends” e, principalmente, com o hino “Drunk Drivers/Killer Whales” que nos apercebemos do poder da lírica de Toledo. Desprendida de pretensiosismos e de uma sinceridade brutal, grande parte daqueles jovens que gritavam a plenos pulmões “It doesn´t have to be like this” identificam-se de alguma maneira como “Teens of Style”. Terminado o concerto com a nova canção “War Is Coming (If you Want It), esta foi a prova que de que não será certamente a última paragem dos Car Seat pelo nosso país.

Umas horas mais tarde seria altura de um outro “geek” subir a palco. Archy Marshall, mais conhecido por King Krule, foi outro dos nomes mais aguardados nesta edição. Com apenas 23 anos, mas com uma voz já bem madura, o “ginger” preferido da cena musical actual subiu a palco acompanhado de uma banda exímia, com destaque para a secção de sopros. Os toques de jazz da sua música fizeram as delícias do público courense, cada vez mais eclético nas suas escolhas musicais. “6 Feet Beneath the Moon” foi o prato da casa com destaques para “A Lizard State”, “Easy Easy” ou “Out Getting Ribs”, com a qual encerrou o concerto.

Um dos concertos mais aguardos seria o de At the Drive-in. Para verdadeiros “Teens of Denial” (retomando o texto de Car Seat) este seria o espectáculo reservado aos veteranos que por ali andavam. Teve ainda um sabor especial uma vez que foi a primeira vez que a banda pisou solo português. Os fãs da banda não se recataram e deram trabalho aos seguranças das grades nos inúmeros moshes e crowdsurfings. De Cedric Bixler-Zavala ouvimos palavras que apelavam à paz e amor – «Só podemos fazer isto se continuarmos a amarmos e aceitarmos uns aos outros» – enquanto ia passando por êxitos como “Enfilade” ou “One Armed Scissor”. Para os que esperaram uma vida para ver a sua banda de eleição actuar este foi o momento perfeito do festival para levantar mais um pouco de poeira.

A encerrar o palco principal teve Nick Murphy (fka Chet Faker) que, no entanto, protagonizou um dos momentos mais fracos e enfadonhos da noite. Sendo já uma confirmação meio melosa para o que o público de Paredes está habituado, Nick, agora acompanhado por banda, apresenta-se agora com um look um pouco inspirado em Father John Misty. O look não foi, no entanto, suficiente para garantir uma certa soul e o concerto apresentou-se algo tépido, sempre com alguma entrega em falta. De Nick Murphy, o músico, tem ainda pouco, uma vez que o seu set passou em grande maioria pelos êxitos que o catapultaram para o estrelato enquanto Chet Faker, nomeadamente “Gold” e “Talk is Cheap”.

“We are a strange band from a strange country”. Foi assim que se apresentaram os Jambinai que no after hours do palco secundário se revelaram a maior surpresa deste festival. Paredes de Coura também vale pela descoberta de projectos “fora da caixa” e estes sul coreanos deixaram todos os que assistiram ao seu concerto de boca aberta.
O post rock com elementos de metal e electrónica conjugado com instrumentos tradicionais orientais resulta em melodias únicas e absolutamente estranhas aos ouvidos do comum dos mortais. Em palco apresentaram o mais recente trabalho “A Hermitage” e conquistaram o público português. Obrigatório vê-los numa próxima passagem por Portugal.