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Vodafone Paredes de Coura’17 | Dia 4: Que dures para sempre!

Vodafone Paredes de Coura’17 | Dia 4: Que dures para sempre!

2017-08-19, Paredes de Coura
Bernardo Carreiras
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E se ao fim de três dias ainda houvesse alguém com dúvidas do excelente cartaz desta edição de Paredes de Coura, o último dia serviu como um verdadeiro tira teimas.

Foto: © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Três cabeças de cartaz preenchiam esse dia, isso mesmo três cabeças de cartaz. Enquanto reservávamos fôlego para o furacão que a noite avizinhava, a abrir o palco principal tivemos Manel Cruz.

Recebido como um verdadeiro herói nacional e de tronco nu, Manel Cruz não poderia sentir-se mais em casa do que naquele palco. Nortenho de raiz, nascido no ano da Revolução, é para muitos um verdadeiro Deus da música portuguesa, fruto principalmente do projeto Ornatos Violeta. Mais foi a sua carreira a solo que ali foi apresentada, apesar das inúmeras tentativas por parte do público de recorrer ao passado musical do cantor – “ó toca ornatos”.

“Aldeia do Maluco”, “Missa” ou “Invenção da Tarde” foram alguns dos temas tocados pelo músico que ia alternando entre guitarras e banjo. Manel trouxe ainda um role de temas novos que foram bem acolhidos por entre o público que vibrava quando este se soltava mais dançando em palco. O coro colectivo em “Borboleta” provou uma vez mais que Manel Cruz é um filho da casa. E bom filho a casa torna, não será de todo certamente a última vez que o músico pisará o palco de Coura. Quem sabe um regresso dos Ornatos, 2012 já vai bastante distante.

Da Califórnia (San Francisco) directamente para Coura aterraram os verdadeiros “freaks” Foxygen.
De blaser aberto e cara cheia de glitter com um panamá a esconder o cabelo pintado de vermelho, o vocalista da banda fez a festa no palco, apesar de, aparentemente, não saber bem onde se encontrava. Isso nunca foi um impedimento para dar um verdadeiro concerto de rock and roll e era disso que se tratava ali. A abrir com temas de “We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic” passando directamente para “Hang”, o novo e refrescante álbum, os Foxygen trouxeram um revivalismo que neles até lhes fica bem.
Dos moves à Jagger, ao look do Bowie, voz de Lou Reed ou temas que por vezes parecem tirados de uma verdadeira Magical Mistery Tour, a verdade é que o som de Foxygen não é novo e já o ouvimos inúmeras vezes, mas também é verdade que Sam France e os seus companheiros souberam retirar o que de melhor o século passado teve na música e criar esta mistela exótica que são os Foxygen. Para Sam só desejamos que da próxima vez saiba em que terra vai tocar antes de assumir a persona que carrega para cima do palco.

Depois da euforia infantil chegava a hora de assuntos sérios. Benjamin Clementine, o primeiro cabeça de cartaz do último dia e um dos nomes mais aguardados. Nascido em Londres mas com uma forte ligação a Paris, cidade onde o seu talento musical emergiu das ruas para os palcos do mundo, Benjamin tem já uma forte ligação com Portugal, uma vez que o nosso público parece acariciar o artista elevando-o já a um estatuto de culto.
Mais de um metro de noventa de talento Clementine apresenta-se descalço em palco e por detrás daquele sorriso, por vezes tímido, nota-se que ainda lhe custa acreditar que está perante uma plateia de mais de 28.000 pessoas que o venera. Acompanhado por um coro de luxo, o artista deu um concerto bastante intimista deixando todo o público imerso no seu potente dom vocal e talento ao piano. Aproveitou ainda para testar algumas músicas do seu novo álbum, como “Jupiter” ou “Phantom of Aleppoville”, que fala um pouco da infância problemática do cantor.

Com o piano como trunfo principal do seu espectáculo, em “Condolence” convidou-nos a cantar de olhos fechados enquanto as luzes do palco diminuíam lentamente de intensidade. Despediu-se de Coura com “Adios” deixando a esperança ao público que seja apenas um até já.

Costuma-se dizer que depois da tempestade vem a bonança. Neste caso Paredes de Coura assistiu ao fenómeno inverso que resultou em duas frentes. Por um lado Ty Segall, o verdadeiro pai do garage deu um dos concertos mais potentes que passou por aquele palco principal e levantou poeira suficiente para um ano. Por outro os Foals, banda já de culto e bastante acarinhada pelo público português, que tiveram a missão de fechar o festival, com muita elegância. Guitarras com distorção no máximo, uma nuvem de pó constante, muito mosh e jams é assim que podemos descrever o gig de Ty Segall. O músico que já é encarado como um Deus dada a quantidade absurda de discos que lança já tinha passado por Coura há dois anos com o seu outro projecto explosivo Fuzz. Desta feita chegou em nome próprio no palco principal e trouxe consigo temas como “Finger” ou “Girlfriend”, a surpresa da noite. A certa altura Ty largou a guitarra e saltou directamente para a bateria, instrumento onde revela igualmente uma enorme mestria. Para a próxima edição de Paredes de Coura se ainda houver pó no ar será ainda deste concerto.

De seguida os Foals fizeram aquilo para o qual nasceram, não tivessem eles no sangue o jeito que os britânicos têm para partir tudo e dar concertos capazes de encher estádios de futebol. Dos vários temas de “Antidotes”, primeiro disco do conjunto com forte influências de math rock, aos mais recentes temas de “What Went Down”, não faltou nada na setlist do conjunto londrino.

A sentimental “Spanish Sahara” encheu os corações dos festivaleiros e a derradeira “Inhaler” fechou a primeira parte do concerto. Para o encore voltaram em força com “What Went Down” e “Two Steps Twice” com Yannis a recorrer várias vezes às grades ou a tocar solos de guitarra em cima das enormes colunas de som.

Acabara por fim mais uma edição de Paredes de Coura, sem não antes cantarmos novamente os “Parabéns a Você” e com direito a confettis lançados pelo ar ao som de “All my Friends” de LCD Soundsystem, que nos relembrou uma vez mais que algo de muito bonito se estava ali a comemorar e que há uma memória colectiva de bons momentos nas margens do Taboão que passam de geração em geração.

No palco secundário a festa ficou reservada com Throes and the Shine e Nuno Lopes, outro herói da casa, que teve direito a umas 5 horas de dj set.

Até sempre Paredes de Coura e que dures “Para Sempre”.